Ser EU!

22/03/2024

22.03.24

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Cheguei aos meus setenta anos neste último dia vinte de março. Ultimo dia de verão e inicio do outono.

Estou no setuagésimo outono da minha vida. Quantos mais virão? Dez, quinze, vinte anos? Quem saberá? O destino talvez, este inquestionável provocador de acontecimentos que nos acompanha desde que nascemos, irá definir as minhas próximas estações. Aí está a maravilha da vida, o imponderável e imprevisível, que nos deixa na expectativa do que virá. Vale a pena, apesar de certas situações nos causar dor, tristeza, decepção, remorso, arrependimento. Mas, também grandes alegrias, felicidade e emoção. É assim e sempre será, vivemos a procura da felicidade plena e duradoura, talvez algo impossível, pois nada é duradouro na nossa existência. A morte sim, é eterna!

Vendo as fotografias que guardo desde o meu nascimento, dos muitos acontecimentos que ocorreram ao longo deste período, alguns esquecidos em algum lugar da minha memória, fui revivendo momentos deste longo tempo de vida. Menino de não mais três anos, com foto somente de calção, lembrando-me da infância livre e pura em cidade interiorana que tive, em casa com enorme quintal, com galinhas, cachorro, árvores frutíferas, na qual brincava, me sujava e me esbaldava. Ali, era o meu mundinho feliz e delicioso. Minha vida! Corria atrás das galinhas, pegava os ovos no ninho, andava de bicicleta pelo quintal, subia nas árvores, comia jabuticaba e manga no pé. A vida naquela época era um se esbaldar irresponsável e feliz diário, pois o mundo era um grande desconhecido para mim, e que a cada novo dia, se descortinava a sua realidade escondida. Sorri para a minha foto, reavivando-me e deliciando-me com aqueles momentos na memória por um longo tempo. Era feliz!

Passei assim aquele dia revivendo em cada foto, um pouco da minha existência e história, que não mudará, com os acertos, os erros, as situações que poderia ter evitado, as que poderia ter adotado, com as tristezas e alegrias que tive, com as frustações e conquistas, enfim o que fiz da minha vida até hoje.

Após esta longa reflexão, perguntei-me o que é felicidade? Pensei profundamente e cheguei a conclusão de que, hoje, aos quase um século de vida, a felicidade é poder se sentir livre, de fazer o que se fazia quando menino, na pureza da liberdade conquistada, de ser você e nada mais!

Hoje, eu posso ser EU!

Após escrever estas linhas, chorei de desabafo, pois conclui que como é difícil sermos nós mesmos, e nada mais!