O Mundo é Muito Pequeno

21/10/2023

21.10.23

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-Oi tudo bem? Este mundo é muito pequeno não acha? Estou aqui na minha cidade tomando café com uma pessoa que te conhece há cinquenta anos! –me diz pelo telefone celular, amigo que joga polo aquático comigo aqui na ilha.

-É mesmo? Quem é? - pergunto curioso.

-O Zuqueta, lembra-se dele?

-Sim, claro que me lembro!

Então, Zuqueta começa a falar comigo:

-Tudo bem? Quanto tempo hein, cinquenta anos faz, incrível como passa rápido. E tudo bem?

-Puxa, que prazer falar com você depois de tantos anos. E não sabia que também jogava polo.

-Não jogo não, só baralho e bilhar, mas frequento o clube aqui da cidade, pequena, e conhecemos quase todo mundo – responde rindo.

Em um lapso de tempo enquanto conversávamos, lembrei-me de que estudamos o terceiro ano colegial em escola fraca junto com o cursinho em São Paulo, e lá o conheci. Sua família era de fazendeiros importantes no interior do estado.

-E está casado, quantos filhos e netos têm, fale um pouco de você?

-Sim, casado há mais de 45 anos com a Sílvia, lembra-se dela? Tenho dois filhos e quatro netos. Estudei na FGV e lá a conheci. Hoje vivo aqui cuidando da fazenda.

-Ótimo! Estou morando em Florianópolis faz alguns anos, casado pela segunda vez, tenho dois filhos e uma filha e três netas. Estou aposentado.

-Vou pegar seu número do celular e manteremos contato.

-Perfeito! E está convidado com a esposa vir passar alguns dias aqui conosco, seria um grande prazer.

-Sim, com certeza, agora tenho motivos para arrastar a patroa para aí. Bom saber de você. Abraços!

-Sim também foi muito bom este nosso contato inesperado, graças ao nosso querido amigo em comum. Estou te aguardando hein! Abraços também – terminando a ligação.

Ao desligar, veio em minha memória um fato que havia esquecido depois de tantos anos, mas reavivado com o telefonema dele. Conto a seguir:

Aconteceu em um sábado através de outro grande amigo, infelizmente já falecido – morreu de cirrose hepática por causa do alcoolismo. Fui a sua casa e me disse que naquela noite haveria uma recepção de casamento no bufê "A Baiuca", o mais famoso e caro da capital na época. Não sabia de quem era a festa, sem convite, mas iríamos de "bicão", aproveitar os ótimos comes e bebes. Tínhamos nossos vinte e poucos anos de moços impulsivos e irresponsáveis. Topei é claro!

Aliás, era costumeiro irmos sem ser convidados às festas de casamentos que aconteciam aos finais de semana, geralmente aos sábados, por indicação de amigos principalmente. E na "cara dura", tentávamos entrar. Às vezes não conseguíamos, mesmo dando uma "engraxada" nos seguranças, ou pela entrada de funcionários. Era muito engraçado, quando conseguíamos entrar, pois encontrávamos pessoas conhecidas, o que nos ajudava a nos enturmar. Era uma farra, pois bebíamos e comíamos do bom e do melhor, e de graça, com os amigos.

Fui despreparado, sem terno para a recepção. Emprestou-me um paletó, calça e uma camisa social do seu irmão mais novo, menor que ele. Este, tinha um metro e oitenta e cinco, minha altura; meu falecido amigo, um metro e noventa.

Vestimo-nos e fomos para a festa. O bufê ficava na Rua Maranhão, no bairro de Higienópolis, um dos mais ricos da cidade. Chegamos. Meu amigo se aproximou de um dos seguranças e bateu um longo papo com ele. Observava-os. A conversa terminou e o vi tirando do bolso do paletó umas notas e entregando-as ao porteiro.

-Vamos pela entrada de serviço – disse-me sorridente ao voltar. Mas, teríamos que esperar o segurança liberar a nossa entrada por lá. Esperamos por algum tempo, vendo as pessoas que chegavam com suas roupas finas, principalmente as mulheres, de vestidos longos e brilhantes, de peles e demais itens caros de vestuário, fora as joias e carrões importados. O segurança voltou e acenou levemente com a cabeça para irmos ao portão da entrada de serviços. Lá, um maître nos aguardava. Ele olhou para o meu amigo pedindo mais propina, que olhou para mim como que dizendo "dê o que tiver para ele". Tinha vinte reais em notas enroladas e as dei. Entramos pela cozinha e fomos até o salão, com muita música e animação. Agora, a festa era nossa!

A recepção estava ótima, com uísque escocês, comidas deliciosas e muitos amigos em comum. Foi então que veio a noiva sozinha em minha direção, e ao ver-me, disse-me:

-Você aqui? Que bom que veio, faz tempo que não nos encontramos não é mesmo? – deixando-me sem graça, pois não me lembrava dela.

Naquele momento, o noivo nos viu conversando e chegou junto à esposa. Olhou para mim e falou surpreso:

- Já conhecia a Sílvia?

Ao vê-lo, reconheci o meu amigo Zuqueta. Ela percebeu e me tirou da saia justa, dizendo:

-Frequentamos o mesmo clube. É de lá que o conheço, da natação querido.

-Puxa vida, como o mundo é pequeno, pois estudamos juntos no terceiro colegial e agora estamos nos reencontrando no meu casamento, muito bom! – disse Zuqueta sorrindo para mim e abraçando a esposa.

-Parabéns e muitas felicidades a vocês – desejei-lhes, que agradeceram e foram cumprimentar outras pessoas na festa.

O mundo realmente é muito pequeno.