As Fragatas e a Inveja

03/03/2024

03.03.24

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A praia estava reluzente. O sol da manhã acentuava as cores do céu anil encontrando com o profundo azul do mar, entremeado por ondas brancas espumantes. Uma brisa leve e fresca soprava sobre a praia. Linda vista, e lindo dia acontecia. Calado, apreciava embevecido.

Ao alto, pairavam fragatas com seu voo majestoso. Planavam procurando alimento no mar encrespado, e a cada instante, mergulhavam certeiras abocanhando um peixe. Observava-as invejoso, pela leveza e maestria do seu voar calmo. Gostaria de voar como elas, de ver o mundo do alto.

Sentado sob o guarda-sol, via os banhistas chegando com suas tralhas, comidas, bebidas, sons, demarcando pequenos espaços entre si, aglomerando-se. Instalavam-se e sacavam seus celulares, tirando fotos. A praia era um simples cenário. As fragatas, alheias a tudo e a todos, seguiam no seu planar aproveitando as correntes de ar quente, que as mantinham fácil no ar. Invejava-as, com certeza.

As vozes começaram a sobrepujar o som do mar e o sibilar do vento. As conversas emergiam abafadas, sobre todos os assuntos mundanos e corriqueiros. Alguns, gritavam ao celular. Era como um mercado. Ele continuava a observar, com esforço, as aves planando impávidas. A beleza ali e ninguém notava.

Resolveu dar uma caminhada para longe da multidão. Seguiu pela orla junto do quebrar das pequenas ondas de águas cálidas e límpidas, onde pequenos peixes fugiam do seu pisar. Ao alto, elas pareciam segui-lo. Sorriu reconfortado pela companhia, como um cortejo de consolo.

Andou longe, sem aglomeração. Elas, planavam magnificamente junto a ele, parecendo que também preferiram sair da agitação humana. Sentou na areia quente e continuou a vê-las no seu magistral balé aéreo sobre o azul cobalto do mar. Sentiu calor e entrou no oceano, também majestoso e belo, que o engolfou carinhosamente com sua água refrescante. Refestelou-se no mar imenso e misterioso. Acima, as fragatas seguiam com suas enormes asas abertas ao sabor da brisa salgada.

Olhou-as com inveja e despediu-se, pois seu destino irreparável era voltar para a sua gente. Invejava-as decididamente!